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domingo, 19 de janeiro de 2020

Morte de protagonista abala Globo e novela quase acaba sem desfecho


Morte do ator Jardel Filho pegou a todos de surpresa e final da novela Sol de Verão só foi exibido após pesquisa da Globo feita com o público

No final de 2016, o público ficou atônito diante da trágica morte de Domingos Montagner, que se afogou no Rio São Francisco, no nordeste brasileiro, enquanto ainda gravava a novela Velho Chico, da Globo, que contou com um desfecho criativo e emocionante sem o ator.

Porém, esse não foi o primeiro caso de um protagonista que acabou morrendo ainda durante as gravações de uma novela do horário nobre da emissora carioca. Em 1983, o falecimento do ator Jardel Filho gerou comoção e causou um verdadeiro tumulto nos bastidores da novela Sol de Verão.

Diferentemente da morte de Montagner, que ocorreu quando a trama de Benedito Ruy Barbosa já estava em sua reta final e com poucas cenas a serem gravadas, a perda de Jardel ocorreu quando o folhetim ainda teria cerca de 20 capítulos a serem realizados e exibidos.

Jardel era um dos principais atores da época, tendo construído uma carreira de 33 anos no cinema e de 17 anos na televisão. Ele atuou em filmes marcantes como Terra em Transe e Pixote, e chegou a integrar o elenco de 22-2000 Cidade Aberta (1965), considerado o primeiro seriado da Globo e da própria televisão brasileira.

No dia 19 de fevereiro de 1983, Jardel sofreu um ataque cardíaco em sua casa e não resistiu. A morte do ator de 55 anos ganhou destaque no Jornal Nacional e abalou os bastidores de Sol de Verão. O choque entre os colegas foi tamanho, que o autor Manoel Carlos, que era grande amigo de Jardel, além do saudoso diretor Jorge Fernando, defendiam que a novela fosse encerrada ali mesmo, sem clima para a retomada dos trabalhos.

“Por mim, a novela acabava agora. Será ‘dificilíssimo’ entrar no cenário sem o Jardel”, declarou Jorge Fernando em entrevista ao jornal O Globo na época.

Na trama, Jardel dava vida a Heitor, um mecânico bonachão que se envolvia com Rachel (Irene Ravache), a outra protagonista da história, e que vivia em um antigo sobrado com um grande jardim, onde muitos personagens da trama se reuniam.

Diante do clima de consternação do público e dos seus contratados, a Globo decidiu realizar uma pesquisa para decidir se a história teria sequência ou não: 55% dos entrevistados votaram a favor da continuação da novela.

“O sentimento de dor é geral. Mas em termos práticos, até agora, recolhemos as seguintes opiniões: 14 pessoas sugeriram que Heitor vá para a Holanda [o personagem tinha o sonho de viajar para esse país, terra de seus antepassados] e de lá escreva uma carta para a irmã dizendo que nunca mais voltará ao Brasil; 15 acham que a melhor solução é suspender a novela; e 12 pediram para que Heitor tenha uma morte bonita na novela. Mas a maioria parece acreditar que uma substituição é a melhor solução”, detalhou a então chefe do centro de atendimento aos telespectadores da Globo, Júlia Estrella.

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que atuava como diretor de operações da emissora na época, determinou, então, que Sol de Verão ganharia mais alguns capítulos. Nomes como os de Paulo Autran, Paulo Goulart e Juca de Oliveira chegaram a ser cotados para substituir Jardel, mas a Globo optou apenas por sumir com o personagem.

O autor Manoel Carlos comunicou à emissora que não tinha condições emocionais de dar sequência à história. Assim, o canal escalou Lauro César Muniz e Gianfrancesco Guarnieri, que também atuava na novela, para escreverem os últimos capítulos.

Ao final da exibição do capítulo 120, o último com a participação de Jardel, os atores que faziam parte do elenco gravaram depoimentos emocionados sobre o colega que partiu. Já na abertura do capítulo seguinte, a Globo prestou uma longa homenagem a Jardel.

Em um estúdio, Gianfrancesco Guarnieri, visivelmente emocionado, leu um texto escrito por Manoel Carlos sobre o colega: “Peço a vocês que me vejam não como um dos atores, mas como todos os atores do elenco desta novela […]. Eu peço a todos um instante de reflexão sobre esse velho ofício de esconder a própria vida, sacrificá-la mesmo, em benefício de outras, fictícias, mas que acabam por igualar-se à verdadeira, tão bem são elas vividas. E é por isso que o homem-ator tem que ter muitas vidas dentro de si […] É por isso que quando morre um ator, morrem tantas pessoas com ele. […] Quando Cacilda Becker morreu, Carlos Drummond de Andrade escreveu: ‘Morreram Cacilda Becker’. Assim deve ser dito sempre. Agora… morreram Jardel Filho”.

Durante o texto, a Globo exibiu algumas cenas marcantes de Jardel em Sol de Verão. Curiosamente, em uma delas, o personagem dizia: “Às vezes eu fico pensando… Pra onde será que vai tudo que uma pessoa sabe quando ela morre? A cabeça de um homem; tantos planos, conhecimentos… Pra onde vai tudo isso que ele sabia?”

 Manoel Carlos revelou que teve a ideia de escrever Sol de Verão em uma noite de ano novo que passou na companhia de Jardel, e que não imaginaria outra pessoa para o papel de Heitor que não fosse o colega. O autor ainda planejava um final feliz para o protagonista junto com Rachel, no qual os dois se casariam na Holanda.

Porém, com o imprevisto, os últimos 17 capítulos da trama foram tumultuados, com os textos chegando em cima da hora e algumas cenas sendo gravadas pouco antes de irem ao ar. Apesar disso, com a repercussão da morte do ator, o folhetim registrou um crescimento de audiência em sua reta final.

O jardim do sobrado de Heitor, que havia sido destruído, acabou sendo reconstruído pelos personagens, como uma forma de simbolizar a união entre eles para superar o luto. “A gente não vai se entregar, não. Essa história a gente vai levar até o fim”, dizia Rachel aos demais personagens.

No final da história, em uma conversa com a mãe, a personagem revelou que estava grávida de Heitor. “É como se ele continuasse vivo dentro de mim”, falou Rachel, sugerindo que o mecânico havia morrido.

Com Sol do Verão chegando ao fim antes do previsto, a Globo não conseguiu finalizar a sua sucessora, Louco Amor, de Gilberto Braga, a tempo, e chegou a reprisar a novela O Casarão (1976) de forma compacta até a estreia do próximo folhetim.

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